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Amazônia de fora para dentro

” Cinco dias naquela cabine, navegando no Rio Negro. Nossa última viagem, juntos, os três. E o barco da vida seguiu, cada um para o seu lado. Foi na Amazônia que eu consegui me reconectar comigo mesma. ”

por Marianne Costa, turismóloga e fundadora da Vivejar

 

Passei três viradas de ano na Amazônia, de 2017 a 2019. Fora três anos de recomeços, de cura e de relacionamentos sérios. Com os outros, com a floresta e comigo mesma.

Em 2017, passamos o Ano Novo eu, Maria Luiza (minha filha) e meu ex-marido ressignificando o que viria a ser nosso novo formato de família, dali em diante não mais casados. Foi forte, intenso, doído. Me emociono só de lembrar. Os dois ficaram doentes e eu ali me desdobrei entre os cuidados com eles (família) e a atenção com alguns clientes (trabalho), sem nenhum tempo para olhar para mim e refletir sobre aquele recomeço. Fora 5 dias naquela cabine, navegando no Rio Negro. Nossa última viagem juntos, os três. E o barco da vida seguiu, cada um para o seu lado.

Um caos físico e emocional – Culpa, medo e solidão competiam bravamente com minha alegria de viver

O ano de 2017? Um caos físico e emocional. Os meses passaram e hoje, relembrando, só posso comparar com uma montanha-russa. Oscilei com muita intensidade entre a extrema tristeza e a super euforia. Tinha dias que eu pensava que minha vida não tinha mais sentido. Culpa, medo e solidão competiam bravamente com minha alegria de viver, minha vontade de ganhar o mundo e de ser a melhor mãe para Maria Luiza. A Vivejar, meu novo desafio profissional, só tinha 3 meses. Maria Luiza, minha filha, 4 anos e meio. Eu saindo de um relacionamento de quase 10 anos e voltando para São Paulo, a cidade que eu menos desejei estar nos últimos tempos.

A vida me levou neste ano como o vento balança as árvores na Amazônia, como traz e leva as tempestades, como sobe e desce o volume das águas nos rios, de uma forma que os olhos não conseguem compreender. Foi neste ano que eu finalmente senti na pele aquela frase de Guimarães Rosa que diz que a vida quer da gente é CORAGEM. E fui recebendo os primeiros sinais de que a Amazônia não entrou na minha vida por acaso.

Bons ventos para Amazônia.Todos, à sua maneira, me guiando para as minhas respostas, a minha cura.

Bons ventos para Amazônia me trouxeram mais vezes durante o ano. Amazonas, Pará, Acre… índios, ribeirinhos, povos da floresta, amigos. Todos, à sua maneira, me guiando para as minhas respostas, a minha cura.

Em 2018 eu voltei. Desta vez com um barco cheio de clientes e amigos. Voltamos, eu e Maria Luiza. Família e trabalho de novo, juntos. Com mais leveza, um pouco mais de foco, mas ainda me deixando levar pelos ventos, pelas águas. E a Amazônia vem logo e diz: “Esse ano não pode ser assim não. Não vai começar o ano carregando esses sentimentos ruins. Larga isso aí em 2017”.

Para limpar minha alma de vez fui agraciada com a Malária, que castigou meu corpo com dores, febre, calafrios e me obrigou a parar. Foi com essa doença difícil que meu processo de cura se acentuou. Depois do tratamento alopático intenso para recuperar minha saúde física, foi a vez de olhar a minha cura espiritual. Passei o ano me dividindo entre os cuidados com Maria Luiza e com o trabalho, mas também investindo algum tempo em mim, cuidando da minha energia, entendendo que, para que eu pudesse viver o amor e a abundância que eu desejo para mim e para os meus, era preciso estar bem.

Mas por diversas vezes eu perdi o foco. Me exigi física e emocionalmente além da conta. E o corpo me cobrou, me alertou, me fez andar para trás, me fez diminuir o ritmo, por vezes parar. Um desmaio no aeroporto me alertou e eu percebia ser a hora de me ouvir mais, meu corpo e minha mente, eles gritavam para que eu desacelerasse.

Então 2019 chegou e lá estava eu na Amazônia de novo. Desta vez, sozinha. Por quê? Pois, eu descobri que o amor, a companhia, a coragem que eu estava buscando sempre estiveram aqui, dentro de mim. E foi na Amazônia, onde a força de Deus (ou da energia, do amor, da luz maior que você acredita) se apresenta no seu estado mais intenso, exuberante e principalmente, abundante. Lá eu percebi que eu sou parte deste ciclo virtuoso de luz; que tudo que eu preciso para realizar, para me curar, para amar está aqui dentro de mim… E só na Amazônia eu consegui me reconectar comigo mesma.

E vem a pandemia e cancela meus planos, meus sonhos. Mas acelera a urgência e a reflexão.

2020 chegou, novos desafios se impuseram e de repente uma pandemia global parou não só a mim, aos meus projetos, aos meus planos, mas ao mundo inteiro. Eu, que finalmente tinha conseguido bloquear 12 longos dias na minha agenda atribulada do ano para, adivinhem? Férias pessoais comigo mesma. Eu e o Monte Roraima, um sonho sonhado há 10 anos e de repente interrompido pela pandemia. Além dele, uma temporada encaixada de 8 dias no Xingu finalmente seguia nos planos. Conhecer pessoalmente o espaço sagrado de amigos indígenas cuja amizade permanece no campo virtual. E vem a pandemia e cancela meus planos, meus sonhos. Mas acelera a urgência e a reflexão: eu não vivo para sonhar, eu quero sonhar vivendo. E o que seriam uns dias na grama depois de 50 dias, confinada no apartamento em São Paulo (ainda lá, pasmem!) se transformaram de novo em uma das principais decisões da vida. Penso que depois do divórcio, mudar para uma chácara no interior de São Paulo em plena pandemia foi uma das decisões que mais estruturais da nossa vida familiar.

Cá estou recém-chegada no interior… e, com certeza, com muitas reflexões e muita coisa boa para contar em breve. Mas isso já é assunto para um próximo papo.

Sigo entendendo que as coisas e as pessoas não vão necessariamente mudar, quem vai mudar a forma de lidar com elas, sou eu. Que vida é cheia de ventos, tempestades, desafios… mas desde então eu assumo o comando do meu barco e sou eu que vou dar a direção aqui. Assim como as pessoas, para sobreviver na floresta, precisam observar, ouvir, esperar o tempo certo, estou aprendendo a me observar, ouvir meus sentimentos com gentileza e me impor um ritmo que eu dê conta de acompanhar.

 

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